sábado, 19 de setembro de 2009



Esse meu ar superior de quem sabe lidar com a vida, é apenas autodefesa.



As frases filosóficas são para impressionar, para passar essa ilusão de intelectual.


Na verdade eu ainda nem sei se acredito nos valores que me ensinaram, quanto mais em frases feitas e opiniões formadas!


Sente-se! Deixe-me tirar os sapatos, soltar os cabelos, limpar a maquiagem.


Quero mostrar que assim de perto não sou tão bonita quanto pareço,


e que no fundo tenho um medo terrível de que me achem feia e que encontrem em mim uma série de imperfeições.


Não quero mais usar essa máscara de mulher maravilhosa, de mulher forte com punhos de aço.


No íntimo, me sinto pequena, leve demais para enfrentar o vento e a tempestade,


querendo apenas ficar no aconchego do ninho e ser acarinhada até adormecer.


Às vezes minha intimidade não brilha e um homem


terá que me amar muito para suportar essa minha impotência.


Deixe-me descansar. Essa jornada está me deixando cansada demais!.


A convicção de independência afetiva?


É tudo balela! Eu queria mesmo era dividir a cama, a mesa, o banho.


Queria dividir os sentimentos, os sonhos, as ilusões. Um pedaço de torta, uma xícara de café, algum segredo.


Ah, eu tenho andado por aí, tenho sido tantas mulheres que não sou!


Inventei-me várias vezes, sempre convencida da minha nova identidade.


Administrei minha liberdade. Tomei aviões, conheci pessoas importantes e poderosas,


tomei uísque, troquei uma lâmpada, fiz muitas coisas sozinha.


Decidi o meu destino com tanta incerteza e abdicação!


E agora? Mais de trinta anos e toda atrapalhada tentando uma posição diferente, um olhar mais grave, um sorriso nos lábios.


Mas não sei direito o que fazer para agradar.


Confesso que isso me cansa um pouco.


Queria mesmo era falar de todos os meus medos.


Dos seus medos? Dirá você, como se eu nunca tivesse temido nada.


Queria falar da minha infância, dos animais que tive, do meu primeiro dia de aula.


Queria falar dessas coisas mais simples e levá-lo onde nasci e onde passei toda minha vida, mostrar algumas fotos minhas quando criança.


Queria falar dos brinquedos que tive, dos sonhos que achei que se tornariam real!


Queria mostrar as flores que eu plantei (como elas cresceram!).


E todas essas coisas que são tão importantes para mim e tão insignificantes aos outros.


Queria poder apresentar-lhe meus pais, meus irmãos, meus filhos, meus amigos. Sinto falta desse poder que é tão distante da minha realidade.


Por que estou contando isto? Nem eu sei, mas na verdade estou morrendo de medo que você saia desta cena antes de mim.


Que você saia à francesa desta história e eu tenha que recolocar minha máscara e me reinventar outra vez.


Isso é apenas um esclarecimento do porque eu parti.

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