sábado, 10 de julho de 2010

Um coração ...

Estava andando, me deparei com Clarice Lispector: "Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. Ou toca ou não toca." que me deu as mãos e me fez rodar rodar rodar: "Rifa-se um coração Um coração idealista Um coração como poucos Um coração à moda antiga. Um coração moleque Que insiste em pregar peças no seu usuário. Rifa-se um coração Que, na realidade, está pouco usado Meio calejado, meio machucado E que teima em alimentar sonhos e cultivar ilusões. Um pouco inconseqüente Que nunca desiste Um leviano E precipitado coração Que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu: “Não quero dinheiro, quero amor sincero, isso é que eu espero!” Um idealista Um verdadeiro sonhador. Rifa-se um coração Que nunca aprende, que não endurece E mantém sempre viva a esperança de ser feliz Sendo simples e natural. Um coração insensato Que comanda o racional Sendo louco o suficiente Para se apaixonar. Um furioso suicida Que vive procurando Relações e emoções verdadeiras. Rifa-se um coração Que insiste em cometer Sempre os mesmos erros. Esse coração Que erra, que briga, se expõe Perde o juízo por completo Em nome de causas e paixões. Sai do sério e, às vezes, Revê suas posições Arrependido de palavras e gestos. Este coração tantas vezes incompreendido Tantas vezes provocado Tantas vezes impulsivo Um coração para ser alugado Ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes. Um coração abastado Indicado apenas para quem quer viver intensamente. E, contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida Defendendo-se das emoções. Rifa-se um coração Tão inocente Que se mostra Sem armaduras E deixa louco O seu usuário. Um coração que, quando parar de bater, ouvirá seu usuário dizer: “O senhor pode conferir, eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento, Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança, Que insiste em não endurecer se recusa a envelhecer.” Rifa-se um coração Ou até mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo, Um órgão fiel ao seu usuário Um “amigo do peito” que não maltrate tanto o ser que o abriga Um coração que não seja tão inconseqüente. Rifa-se um coração Cego, surdo, mudo Mas que incomoda um bocado. Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado. Provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais Por não querer perder o estilo. Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree. Um simples coração humano, Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado, Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar. Uma vez por outra constrange o corpo que domina. Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos, A ter a petulância de se aventurar como poeta."



















Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!!!

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